Boquita de cereja

As desventuras de uma menina a procura de um lugar seguro

terça-feira, maio 16, 2006

Vergonha

Recife, dia 11 de abril

Acredito piamente que minha mãe me fez um desfavor na vida.
Coitada.
Quando eu era pequenininha, devia ter uns sete anos, me lembro que alguém na minha escola tinha dito que gostava de mim. Eu fui correndo falar pra minha mãe e ela disse a seguinte frase.
- Se alguém gostar de mim de verdade, eu vou acabar gostando dele também .
Pronto foi o suficiente.
Na época isso me impressionou bastante. Achei que era assim que devia ser. Não tinha reparado como isso pode soar carregado de baixa auto-estima.... Eu sei, eu sei que o que minha mãe quis dizer e que devemos valorizar quem gosta da gente, não valorizar quem não nos valoriza, blábláblá, coisa e tal, mas o que acabou ficando em mim é uma total falta de personalidade quando alguém realmente se mostra se importar comigo. Eu nem quero. Tem vez que eu não me sinto atraída, nem acho o carinha interessante mas acabo ficando com ele. E nem é por pena não. Nem por que assim eu me acho o máximo. È por que eu não consigo contrariar, ser estraga prazeres de alguém que é tão legal ao ponto de ta louco por mim.
O fim da picada né.
Eu morro de vergonha disso. Mas é a mais pura verdade. Isso fica guardado nequele lugar junto com todos aqueles outro sentimento que quando remexemos chega dar um arrepio. Que vergonha, que vergonha( tipo a tiazinha do bolo, né Ana? Ta bom não resisti, foi mal)
Mas conto isso não para me senti melhor. Tô com as bochechas queimando de falar isso assim na lata, mais sim para que vcs possam entender por que tudo aconteceu.
Só pra recapitular, lembra quando no resumo que eu fiz, eu falei que eu conheci o socil do bruxo? Eu ate mandei vocês guardarem esse fato.
Pronto.
Começamos falar no MSN. Tudo inocente( isso existe no MSN?) E lógico que eu sabia que ele tava muito afim de mim. Mas depois da minha frustrante noite anterior eu precisava de uma boa massagem no ego. Então fui encontrar com ele e com um amigão em comum que tava fazendo aniversario. Por incrível que possa parece, acabamos indo para o mesmo lugar GB da noite anterior. Em recife tudo acaba sendo meio previsível.
De cara eu logo saquei que não existia a menor possibilidade de eu ficar com o menino das estrelas (Ele sempre enchia minha caixa de mensagens com estrelas , mandava céus de presente pra mim). Sem chance. Ele era pivete. Bobinho. Feinho. Atrapalhado. E tinha umas idéias completamente nerds e se mostrou bastante homofóbico, o que pra mim já era suficiente para nunca mais olhar na cara dele. Mas ele parecia tão apaixonado. Tão desesperadamente ansioso. Tão desastradamente inseguro. Que eu nem sabia o que fazer.
Então aquela angustia me contagiou. E como ele não sabia onde colocar as mão, acabei colocando a minha na mão dele. Era como se fosse uma declaração: Calma..shhhhhhhh....vai acabar tudo bem.
Mas claro que não foi isso que aconteceu. Ele segurou em minha mão e olhou nos meus olhos. E toda a mesa que estava contagiada, acompanhando o drama do menino suspirou aliviada em uníssono. O que eu poderia fazer? Tirar a minha mão e gritar: Não é nada disso que vocês estão pensando gente. Eu só quis acalmar o menino!!!!!!
Não dava né? Ai ficamos lá de mãos dadas. E eu pensando ai meu Deus. O que eu faço?
Conclui logo que minhas opções não eram lá essas coisas...
1- Podia fingir um ataque epiléptico e esperar que a ambulância e os paramédicos me salvassem
2- Podia gritar : Olha um disco voador. E quando todos olhassem Sair correndo
3- Podia dizer que eu sofria da síndrome de touret e dizer que minha mão agarrou a dele num espasmo involuntário.
Ou podia não fazer nada. Que foi o que eu fiz.
Ai, num gesto impensado eu disse: vou buscar uma cerveja. Já tínhamos saindo do restaurante GB e estávamos bebendo num trailer undregound, que como todo lugar undreground não tem garçom. Sei que foi uma manobra arriscada queridos. Fadada ao fracasso. E adivinhe?
Pois é. Ele foi atrás, obvio. E no meio do quintal do bar( è amigos paulistas, em recife os bares tem quintal) no escuro eu ouvi um Janaina, uma mão puxou meu braço e ele me empurrou na parede e me tascou um beijo.
O que eu podia fazer. Tenho certeza que esse foi o único ato de total segurança e decisão nos seus últimos 22 anos. Eu não podia simplesmente falar não, ta louco!
Vocês não tão entendendo. Ele é muito, muito tímido! Eu sou uma mãe agora. Eu não posso traumatizar o garoto. Eu tenho um menininho gente. Espero que as moças tenham essa consideração com ele se ele for completamente nerd, oras.
Enquanto eu dava aquele beijo interminável no garoto estelar, a consciência das implicações daquele beijo passavam na minha cabeça. Eu ia ter que sair dali com ele não era mesmo? E o pior de mãos dadas. Putaquepariu! Eu tenho um nome a zelar nessa cidade gente. Uma lista dos mais desejados bad boys do nordeste. Corações selvagens partidos pela titia aqui. Como eu vou desfilar com os mais nerd dos nerds na frente de toda comunidade rouqueira presente. Eu já podia ouvir os comentários rolando.
Ix , olha pra ali. Era uma menina extrema na juventude. ta ficando tiazinha........ficando com nerds.....daqui a pouco vai ta ouvindo Geraldo Azevedo e mandando telegramas fonados.
Porra eu demorei anos para construir uma imagem.
E nem me venham me recriminar com essa conversa de que eu sou mesquinha. Pequena. e que o mais importante e o interior das pessoas, que isso é o papo de radiologista. Tudo bem que quando você ta apaixonada ele pode ser gordinho, baixinho e careca que você acha lindo. Mas ninguém aqui falou em amor, falou? Estamos falando de dá uns malhos num muro, gente. Se você vai se passar a esse papel que seja com um cara alto tatuado e estilosissimo porra?
Tudo isso passava na minha cabeça ao mesmo tempo que eu fui percebendo que o moleque beijava bem pra caralho.
Eu não queria casar e constituir família mas digamos que eu aproveitei bem aquele escurinho.
Acabamos indo pra casa junto( calma, só indo junto, não pra mesma casa.) e as manobras que eu fiz para que ninguém nos vissem juntos foi digna de um bale russo.
Deixei o menininho em casa. Praticamente atirei ele do carro na frente do prédio dele. E passei o caminho inteiro morrendo de vergonha de mim mesmo e confesso completamente passada de como um bobão daquele podia ser tão gostoso.
Vai saber... Tô até repensando minha determinação de não ficar com bobões