Boquita de cereja

As desventuras de uma menina a procura de um lugar seguro

quarta-feira, maio 31, 2006

Adolecencia

Adolescência

As referencias de cada pessoa são coisas totalmente pessoais.
Cada um tem uma imagem do que é adolescência. Para alguns é espinhas. Para outros bailinhos. Para os mais idiotas, racha de carro. Para os mais nerds concursos de matemática.
Para as mais apressadas, um bebê. Para os mais roqueiros, Ramones.
Para mim nada mais representa ser adolescente do que dá um amasso numa cama de solteiro.
Pois é. Só virei adulta quando eu comprei minha primeira cama de casal. Não teve carteira de motorista, emprego, vestibular, perda da virgindade nada. O que fez eu me sentir gente grande mesmo foi ter que parar de me espremer com um carinha em míseros 90 cm de largura.
Eu comprei a minha primeira cama de casal na rua do Aragão. Foi um evento. Eu já tava namorando um menino há meses, e naquela época, nos meus parcos 17 anos recém completados, isso equivalia a um casamento. Eu tinha acabado de passar no vestibular e como presente( não tinha carteira de motorista ainda), eu ganhei uma cama.
Na verdade o que eu tava ganhando naquele momento era o direito de dormir com meu namorado em casa, de ter oficialmente uma vida sexual. Por isso a solenidade do momento. Foi a família toda. E eu voltei de lá com uma cama enorme para os meus padrões da época, toda em embuia maciça, com um baú atrás e duas mesas de cabeceiras.
Daí em diante começou minha vida de adulta mesmo.
Depois fui morar em São Paulo. Alone. Claro que tinha uma cama de casal né? Você conhece alguém que mora sozinho e dorme numa cama de solteiro. Se conhece, fuja dele. Essa pessoa é o maior perdedor do mundo. E mesmo se eu saísse com carinhas que ainda moravam com as mães, acabávamos sempre indo pra minha casa por motivos óbvios.
Algum anos depois
Era sábado. Tava um dia lindo e o sol surgira radiante para apagar aquela noite tão confusa que eu passara com o menino bruxo. E fácil dissipar magoas quando acordamos e damos de cara com aquele marzão. Todo mundo feliz andando no calçadão. Todo mundo jogando vôlei, tomando picolé de biquíni. Só sendo muito do contra pra sucunbir a pensamentos destrutivo numa paisagem desta.
Então eu empurrei toda a dor pra embaixo do tapete, coloquei um vestido longo preto no melhor estilo.Sylvia de Fellini e decidida fazer da minha uma doce vita ,segui para a casa do menino estelar.
Os pais deles estavam na praia. Ele tava sozinho no apartamento e me chamou para ir lá, fumar um baseado e ouvir um som. Coisa mais 17 anos né? Enquanto eu vagava de mansinho pelas ruas desertas de uma cidade ensolarada em pleno feriado cristão, fui tendo uma sensação nostálgica. Lembrei de quando rezava dia e noite para meus pais viajarem nos fins de semana e assim que eles dobravam a esquina, minha casa era invadida por uma horda de delinqüentes juvenis, os quais eu denominava amigos e pasavamos 2 dias nos agarrando, bebendo e fumando maconha, comendo macarrão com salsicha e claro ouvindo metal no ultimo volume.
Bons tempos aqueles. E o legal era que sempre o pai de alguém tava viajando, então nessa vezes eu fazia parte da horda de ôgros e me alojava na casa do sortudo com parentes ausentes. Fui sendo tomada por esses sentimentos e já na ponte da torre, me senti novamente como se eu trajasse minha sainha preta, meus coturnos e minha camisa do iron maiden. Tudo bem que se eu tivesse ainda 16 anos, eu estaria numa parada de ônibus, sob o sol escaldante, esperando o casa amarela nova torre e levando na mochila vinho ruim e quente. Agora eu tô num Renault 16 válvulas com ar- condicionado e levando cerveja Premium , vodka boa e tira-gostos metidos. Mas porra. Tem que ter alguma vantagem em envelhecer né?

Devo confessar que eu tava meio nervosa de ir na casa do menininho. E nem era por que eu achava que ia transar com ele nem nada. Eu sabia que eu não ia. Não por pudor(Tão loucos?) Eu tava menstruada, e mesmo sabendo que rola transar neste estado, só quando você já ta praticamente casada né? Não assim de primeira. Erca. Que papo nojento
Mas o nervoso era por que eu tava meio confusa sobre a minhas reais intenções para com a sua pessoa. O que eu queria dele? Eu tava com medo de deixar ele achar que tava me apegando a ele . Eu gosto dele. Serio. De um modo estranho mais gosto. Só que eu gosto mesmo do menino Bruxo. E por mais que eu me sentisse magoada, confusa a seu respeito, não conseguia tirar o idiota da minha cabeça.
Ele pareceu realmente feliz em me ver. Colocamos tudo na cozinha e sentamos na sala. Tava tudo meio estranho. Apertamos um baseado. E mesmo assim não quebrou o gelo.
Não era só a cerveja e os petisco que tinham mudado com o passar dos anos. Eu não era mais aquela. Eu só pensava que a mãe dele podia chegar, e não pelos mesmos motivos que quando eu tinha quinze anos . Na época eu ficaria puta pela coroa ter estragado a balada. Agora eu ai ficar passada. Eu tava na casa de uma pessoa que não tinha se quer me convidado, fumando maconha na sala sem autorização do proprietário, trazendo bebidas alcoólicas com intuito de fazer uma festinha clandestina e perturbando os vizinhos com Steve Morse no ultimo volume. Realmente eu não tinha mais idade pra isso.
Mas fazer o que? Como quem ta na chuva é pra se queimar. Resolvi ficar totalmente louca para ver se a loucura adolescente voltava a habitar esse corpinho que vos fala. E deu certo. Começamos a relaxar. A coisa foi fluindo e de repente foi me dando uma coisa. Uma vontade de agarrar ele. Mas eu sabia que não podia rolar nada então deixei quieto.
Foi quando ele veio com a frase mais clichê do mundo.

-vem ver um negocio no computador do meu quarto.

Nossa. Quantas coisas já fomos ver nos quarto das figuras. Coleção de gibi. Disco do carcas. Aquário. E o mais engraçado é que por menor que fosse o lance, nunca dava pra trazer pra sala. Podia ser um dedal, que tinha que rolar uma visita a alcova do cidadão. Mas eu nem posso falar muito. Tem um poster do Dream theater que já foi muito visitado no meu quarto. Minha coleção do Rex Stout idem.
Fiquei sem entender muito bem o que ele queria fazer no quarto. Ele sabia que não dava pra transar então........E foi no meio desse pensamento que me deparei com a verdadeira volta as origens. O quarto dele tinha uma cama de solteiro.
Claro Carolina, o que você tava pensando? O menino mora com os pais. Ainda por cima divide o quarto com o irmão, que apesar de ter começado uma careira de rock star, ainda tem sua caminha bem bonitinha lá naquele que vai ser sempre o seu lar. Você achou que iam ter duas camas de casal por acaso?
E ai aquela sensação que eu era uma menina um tanto quanto revoltada um tanto quanto esperta um tanto quanto inocente foi voltando e me tomou completamente. E começamos o ballet que se faz necessário quando duas pessoas resolvem ocupar um espaço tão pequeno. E foi tudo fluindo tão bem. Foi tudo se encaixando tão certinho. Porra, eu era boa nisso. Descobrir que dar um amassos em cama de solteiro é igual a andar de bicicleta. E sendo assim eu queria dizer que na minha época eu podia ter participado do X-games nessa modalidade agarristica.
É sabe o que mais? Foi muito bom. Mas o melhor de tudo foi que eu descobri outra coisas que nos, pessoas vividas esquecemos. Que o beijo não é simplesmente a enrrolação antes de tiramos a roupa. Falem a verdade. Se vocês estão com os respectivos e por algum motivo vocês sabem de ante mão que não vai rolar sexo o que vocês fazem?
Pode ate da uns beijinhos coisa e tal, mas rapidinho vão colocar um filminho, abrir um vinho, jogar war, paciência, qualquer coisa. Não nos damos conta do que perdemos. Nem lembramos.
Voltei pra praia de boa viagem bem mais leve. É bom quando surpresas aparecem de onde nem imaginamos. Nunca pensei que o garoto seria capaz de desfazer a confusão causada na minha cabeça pelo menino bruxo.
Quanto a minha sainha e o cortuno. Acho que prefiro minhas roupas mais bem acabadas da atualidade. Não que meu guarda-roupa não tenha lugar para uma boa doctor mártir(?). Abaixo o vinho ruim, e viva a absolut.
Mas quanto aos beijo, quero ter 15 anos sempre